A importância do brincar: brincando e aprendendo
- Barbará Luksevicius e Camila Ferreira
- 17 de abr. de 2015
- 4 min de leitura

Qual é o significado do brincar para a criança? Já que essa é uma necessidade que toda criança tem, é uma atividade que faz parte do seu cotidiano, seja ela do sul, do centro ou do norte. O crescimento das crianças é acompanhado pelas brincadeiras e pelos símbolos que ela mesma inventa para construir conceitos e entender aquilo que a rodeia.
A brincadeira é uma forma de comunicação e expressão, é a linguagem do corpo. É através dela que a criança codifica o texto corporal, amplia seu repertório e experimenta sensações que poderão ser usadas ao longo da vida.
Crianças do mundo inteiro estão brincando nesse exato momento, de repente, da mesma brincadeira, mas cada um com seu grupo, com suas regras e a sua maneira. Como pode a mesma brincadeira possuir nomes diferentes e algumas regras adaptadas? Isso ocorre, devido ao contexto em que as crianças estão muitas vezes inseridas, pois fatores como tempo, espaço, condição econômica, etc., influenciam em suas práticas corporais, uma vez que estas são produtos da sua cultura. Sendo assim, cada brincadeira adquire um significado dentro da sua cultura, do seu repertório, do seu país.
Não é preciso ir muito longe, para perceber as diferentes brincadeiras existentes nas diferentes culturas brasileiras, crianças do nordeste possuem brincadeiras diferentes das crianças do sudeste e, na maioria das vezes, isso está justificado pelos fatores que as atravessam. É comum, por exemplo, crianças de centros rurais brincarem de pipa, papagaio, ou cometa como é chamado em alguns lugares, porém nas grandes áreas urbanas isso já se torna menos frequente, em decorrência do espaço em que vivem, o qual não proporciona grandes vantagens para a brincadeira, como é o caso dos fios de redes elétricas. Aqui, temos o meio como fator influente no repertório da criança.
Ou seja, a brincadeira, independente do lugar no mundo, é uma forma de expressão e é um produto da cultura.

Já repararam que muitas vezes as crianças reproduzem aquilo que veem? Por quê tantas meninas brincam de casinha, enquanto tantos meninos brincam de lutinha? E por que as meninas são vistas de uma forma “diferente” quando jogam bola na rua e os meninos quando brincam de boneca? A brincadeira também reproduz os estereótipos do mundo moderno. Como linguagem e forma de expressão da criança, é através das brincadeiras que podemos enxergar o olhar que estão constituindo sobre o mundo e que significados elas estão dando a certas questões, como as de gênero, por exemplo.
Além de estimular a fantasia, o lúdico e a arte, a brincadeira também é usada como um recurso pedagógico, podendo trabalhar questões cognitivas, potencialidades e até mesmo para reconhecer certas limitações. Quando o brincar significativo tem como aliado o aprender, eles se aproximam de uma educação ideal, já que a brincadeira é saudável e por isso necessário na infância, pois é por meio dela que as crianças são projetadas na realidade. As brincadeiras são situações que oferecem vivências de novas experiências, que posteriormente auxiliarão na criação de estratégias, a partir do desenvolvimento da criatividade. Há algumas brincadeiras que estimulam o desenvolvimento das crianças e ajudam na aprendizagem infantil.
Vygotsky, através de seus estudos, mostrou que a brincadeira favorece a aproximação das zonas de desenvolvimento proximal (o que está entre o nível de desenvolvimento real da criança e o nível de desenvolvimento potencial). Ele ressalta a importância de atividades artísticas em grupo, pois é esse contexto que possibilita a construção de relações individuais e coletivas, como meio para o desenvolvimento individual e de efetivação da aprendizagem. As diferentes práticas e teorias da educação mostram que a criança aprende brincando.

O ato de brincar promove a construção do conhecimento, pois a brincadeira mostra uma função social e permite a análise, expressão e comunicação da criançaXcriança e da criançaXmundo, formando uma identidade pessoal e social, aprendendo e interagindo com a realidade. É na brincadeira, que a criança sente-se mais segura para atuar de maneira ativa, estabelecendo suas próprias regras e formulando os próprios jogos, externando o seu olhar sobre o mundo.
A “conexão” da criança (potencialidade e necessidade) com o educador (qualificação) pode estabelecer relações de atenção e afeto que irão modificar as práticas pedagógicas em situações de aprendizagem significativa, contribuindo para a formação da criança e fazendo com que a mesma interaja com a sociedade de forma significativa. Ampliando seu repertório corporal, cultural ( uma vez que possam ser introduzidas brincadeiras típicas de outros locais) e ainda, fortalecendo laços afetivos, é possível garantir a criança momentos saudáveis que estimulem seu desenvolvimento de maneira lúdica, sem tirar a seriedade da formação que está sendo construída através dessas práticas, porque afinal, depois de tudo isso... brincar também é coisa séria.
Referências bibliográficas
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NEIRA, M. G. O ensino das práticas corporais na escola. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 15-22.
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